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Indústria de diplomas e a falácia da inclusão

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  • 16 de junho de 2025

Vinícius De Andrade

Parte do ensino superior privado virou uma fábrica de diplomas sem nenhuma preocupação com a formação oferecida. Seu discurso de inclusão é falacioso e mascara, sem escrúpulos, a estratégia do lucro pelo lucro. 

AndradeFoto: USP Leste/Agência Brasil 

“Tudo que envolve o oferecimento de um diploma universitário é positivo? Não”, escreve Vinicius De Andrade. 

“Tenho apenas uma hora livre por semana para estudar. Não tenho tempo para ler materiais acadêmicos. Não sei enviar um e-mail e tenho dificuldades básicas com a norma culta da língua portuguesa”.

Temos a oportunidade perfeita e que encaixa no seu perfil. Oferecemos uma graduação inteiramente on-line em direito, sem necessidade de prova para ingressar e por apenas 200 reais por mês.

Embora fictício, o diálogo acima revela uma tendência real e preocupante no ensino superior brasileiro: a banalização da formação, guiada por uma parte da indústria privada de ensino superior que se tornou fábrica de diplomas, em nome da inclusão aparente.

Muito se discutiu sobre o decreto do presidente Lula que tornou alguns cursos obrigatoriamente presenciais e proibiu outros, como as licenciaturas, de serem integralmente remotos.

A discussão, naturalmente, perpassa o dilema entre a suposta inclusão e a responsabilidade para com a qualidade da formação.

Falácia da inclusão

Tudo que envolve o oferecimento de um diploma universitário é positivo? Não.

Acredito que a inclusão passa por políticas de cota e reserva de vagas, para que o acesso de grupos minoritários seja possível; por políticas de permanência, como auxílio-transporte, moradia e programas de bolsa; e também, por exemplo, pelo oferecimento de cursos de reforço, como matemática básica, gramática e até mesmo tecnologias digitais, dado que há discentes, já vi, que não sabem mandar um e-mail.

Por outro lado, indo pelo extremo oposto, não passa por oferecer um diploma de médico para alguém que nunca assistiu a uma aula, pois fez uma graduação remota, e que não sabe fazer uma simples regra de três.

Tampouco passa por oferecer uma formação sem a mínima infraestrutura, dado que a preocupação é unicamente com a escala e, consequentemente, com o lucro.

Narrativa estratégia, desrespeito com a ciência e com os sonhos alheios

Perdoem-me a franqueza, mas não acho que estamos diante de um cenário em que essas instituições estão com boas intenções, mas apenas errando o tom.

A verdade é que estamos diante de uma estratégia deliberada, que maquia a falta de responsabilidade e ética de inclusão e democratização.

Primeiramente, precisamos pensar no grande público-alvo dessa indústria de diplomas.

São pessoas de baixa renda, boa parte já inserida no mercado de trabalho e com baixa remuneração, com pouca proximidade com o ensino superior e grandes déficits na educação básica, como leitura e raciocínio lógico.

De modo geral, “presas fáceis”. Indivíduos que sonham em ter alguma mobilidade social e a vida, minimamente, mais confortável.

A associação entre esse progresso e o ensino superior os motiva, mas a verdade é que a maioria nem sabe que há universidades públicas, ou simplesmente não se acha capaz de entrar em uma, ou nem entende os meios de ingresso.

Outra parte, infelizmente, dado as grandes lacunas na educação básica, teria grandes dificuldades com o Enem e demais vestibulares e acaba desistindo de ingressar em uma pública ou privada de excelência e séria — ainda bem, ainda existem — via sistemas de bolsa.

O ensino superior precisa, sim, ser acessível e ter seu acesso democratizado. Mas é covardia — e também maldade e falta de ética — construir uma narrativa falaciosa, em nome da inclusão, cujo único objetivo é o lucro pelo lucro.

Não há nada de inclusivo em abandonar a responsabilidade com as consequências de formar mal quem mais precisa de uma educação de qualidade.

A grande ironia é que a falsa inclusão é, na verdade, uma sofisticada forma de exclusão.

Redação CNPL sobre artigo de Vinícius De Andrade / DW