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Milhares de consumidores foram pegos de surpresa pelo pedido judicial da 123 Milhas.
Muita gente perdeu a viagem planejada e dinheiro de passagens, reservas de hotéis e passeios.
Mas, a empresa já estava emitindo sinais de que o negócio não estava bem.
Um artigo recém-publicado pelo professor Ricardo Rochman da Fundação Getúlio Vargas – FGV, explora o que teria ocorrido com a empresa de turismo.
O artigo traça um paralelo com dois outros grandes escândalos financeiros que causaram perdas para milhares de investidores, funcionários e fornecedores – os casos da Enron e da AOL, duas grandes corporações norte-americanas, muito admiradas e expoentes em seus segmentos.
Essas empresas tiveram problemas de governança e praticaram a “contabilidade criativa”, que é procedimento adotado por algumas empresas que usam de “brechas” legais para maquiar suas realidades financeiras.
Entre as práticas “criativas” comuns estão a manipulação de receitas, reservas ocultas e lançamento de despesas como se fossem investimentos, entre outras.
Mas, quais foram os sinais de contabilidade criativa da 123 Milhas?
Primeiro ponto, chama atenção o grande volume de publicidade.
Em 2021 a empresa foi o maior anunciante do Brasil, com gastos de R$ 2,4 bilhões, em 2022, foi o segundo maior, gastando R$ 1,18 bilhão.
Mas, mesmo com esses gastos bilionários, a empresa reportou lucro em 2021 e pequeno prejuízo de R$ 13,6 milhões em 2022.
A “criatividade” da empresa foi a capitalização de gastos de marketing como ativos em vez de realizar o devido lançamento como despesas.
O resultado é que os ativos ficaram inchados e os resultados inflados.
No final de 2022, a 123 Milhas mantinha mais de R$ 800 milhões como “investimento em formação de carteira”, a conta do ativo que representa os gastos de marketing.
Mas, isso não gerava caixa, algo essencial para sua operação.
A saída encontrada pela empresa foi antecipar os recebimentos futuros das vendas de pacotes de viagem. Isso aliado à elevação de custos de viagens e juros altos, a bola de neve da dívida ficou fora de controle.
O resultado foi a recuperação judicial o que leva prejuízos a todos os credores.
Para evitar entrar em frias como essa, o investidor deve ficar atento a sinais de “contabilidade criativa”, como mudanças frequentes nas políticas contábeis, relatórios financeiros inconsistentes ou falta de transparência em divulgações financeiras.
Consultar órgãos reguladores como a CVM, buscar por relatórios de analistas e notícias sobre a empresa podem indicar problemas, mesmo para aqueles com menor conhecimento financeiro.
Redação CNPL sobre artigo de Fábio Grillo
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