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O boom da produção de petróleo nos anos 2000 desencadeou um resultado inesperado.
Apesar da melhora econômica dos municípios beneficiados pela exploração, houve um aumento da violência naqueles da região Sudeste mais próximos aos campos de extração.
A conclusão é de um estudo conduzido pelos pesquisadores Rodrigo Soares, do Insper, e Danilo Souza, da USP.
O trabalho aborda o período entre 1997 e 2016 e se debruça sobre municípios dos Estados do Espírito Santo, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Juntos, respondiam por 90% da produção de petróleo do Brasil em 2013.
Em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, por exemplo, os homicídios cresceram 123%: passaram de 122 ao ano para 272 entre 1997 e 2016. Nesse período, a população da cidade aumentou 24%.
Outras descobertas destacadas pelo estudo:
Durante o boom do petróleo, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos municípios produtores foi cerca de 100% maior, comparado aos não produtores, segundo o estudo.
“É um efeito inesperado e contraintuitivo”, afirma Soares. “A maior parte do trabalho foi tentar entender o porquê, quais são os fatores que contribuíram para o aumento da violência”.
E o que explica esse movimento?
São várias as explicações para o aumento da criminalidade nesse período, apesar do crescimento econômico.
As cidades que surfaram no boom da exploração de petróleo vivenciaram um aumento populacional e, consequentemente, uma urbanização desordenada, sem que os municípios tivessem capacidade para oferecer bens públicos na mesma velocidade do crescimento no número de habitantes.
“De certa forma, a estrutura pública, seja de segurança ou educação, não é uma coisa que responde do dia para a noite. Ela exige algum investimento. Nesse sentido, alguma deterioração no curto prazo poderia ser esperada”, diz Soares.
“O que se imagina é que isso melhoraria, mas fomos capazes de ver isso, porque não foi algo sustentado, dado o colapso do preço do petróleo lá nos anos 2010”, acrescenta.
Além disso, a exploração de petróleo acabou atraindo uma mão de obra masculina e jovem, mais propensa a se envolver com o crime.
Somando-se a isso, o aumento da renda também propiciou o avanço de atividades ilícitas, como o tráfico de drogas.
Nessas cidades, houve ainda um aumento da desigualdade entre trabalhadores formais, que se beneficiaram do aumento da produção de petróleo, e os informais.
O crescimento da produção de petróleo nesse período foi impressionante. Nos anos 1990, a economia brasileira respondia por 1,5% da produção total de petróleo no mundo. Em 2020, essa fatia subiu para 4%, e o País se tornou o oitavo principal produtor do globo.
Os municípios produtores de petróleo se beneficiaram amplamente da alta do preço da commodity no mercado internacional.
O preço do barril saltou 210% entre 2004 e 2013, mas, após atingir o patamar de US$ 97 em 2013, despencou para US$ 43.
“Essas grandes expansões de infraestrutura e de choques econômicos muito rápidos podem trazer esse tipo de coisa”, diz Soares.
“Mas, nesse caso, foi o pior dos dois mundo, porque houve um aumento da renda, mas o boom do petróleo foi muito rápido, gerou uma disrupção muito grande. E se esperava que isso fosse ser superado no longo prazo, mas não foi, porque os preços do petróleo recuaram”.
O que esperar daqui em diante?
Com a descoberta do pré-sal, a exploração de petróleo acabou se concentrando na região Sudeste.
Atualmente, o Brasil produz 3,6 milhões de barris por dia e quase 80% dessa produção vem do pré-sal. Em 2030, as projeções indicam que o Brasil deve atingir um pico de 5,3 milhões de barris por dia.
“A partir de 2030, devemos começar a verificar uma queda (na produção de petróleo). A previsão é de que, em quatro anos, essa queda seja em torno de 900 mil barris por dia, 1 milhão de barris por dia. Isso faz parte do ciclo do petróleo. Há um crescimento até um platô de produção e uma curva de queda bastante acentuada”, afirma João Victor Marques, pesquisador da FGV Energia.
Uma das novas fronteiras de exploração do petróleo no Brasil deve ser a Margem Equatorial.
Neste mês, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) autorizou a última etapa antes da licença ambiental definitiva para que a Petrobras possa fazer a exploração de petróleo a bacia da Foz do Rio Amazonas.
Agora, a Petrobras deverá enviar uma sonda perfuradora e 13 barcos de contenção de vazamentos para iniciar a exploração na região. As embarcações devem chegar em 10 de julho.
“A geografia (do petróleo) aponta para a expansão na Margem Equatorial, não só com a Bacia da Foz do Amazonas, e também para a Bacia do Pelotas, no Sul do País. A gente vê uma possibilidade de diversificação geográfica no desenvolvimento e na produção de petróleo e gás no País”, afirma João Victor.
“Há uma preocupação não só com novas fronteiras, mas também em tornar a produção com uma menor pegada de carbono e com respeito ao meio ambiente”, acrescenta.
Redação CNPL sobre artigo de Luiz Guilherme Gerbelli / OESP
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