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O único benefício para o Brasil da viagem do chanceler paralelo Celso Amorim à Venezuela é expor a distância entre o discurso e o comportamento do governo Lula
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desistiu de enviar observadores para a farsa eleitoral de Nicolás Maduro após o ditador venezuelano questionar o sistema de votação brasileiro.
O ex-presidente argentino Alberto Fernández, que também estava com viagem marcada, foi desconvidado após mostrar incômodo pelo discurso em que Maduro falou em “banho de sangue” caso perca a eleição deste domingo, 28.
Até Lula se sentiu impelido a marcar distância do ditador, ao se dizer “assustado” pela retórica bélica do aliado, mas enviou para acompanhar a votação seu assessor especial para assuntos internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim, que segue demonstrando confiança inabalável na “consolidada democracia” venezuelana.
O emissário de Lula na farsa eleitoral de Maduro disse que pretende “contribuir para uma eleição correta e limpa”.
Mas como poderia ser “limpa” uma eleição na qual foram cassadas as candidaturas das duas principais oposicionistas, e em que a foto de Maduro aparece 13 vezes no cartão de votação, ocupando a primeira linha inteira de fotos da cédula?
Eleição correta?
Além disso, o principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, e María Corina Machado, líder oposicionista que foi proibida de se candidatar, enfrentaram bloqueios de estradas para chegar aos comícios e foram vítimas de vandalismo, assaltos e atentados ao longo de toda a campanha.
E os desmandos não pararam por aí.
Os veículos oficiais de imprensa não entrevistaram os candidatos da oposição.
Foram fechados 47 sites, 14 rádios e duas agências de checagens ao longo do ciclo eleitoral.
E, dos 4 milhões de venezuelanos que vivem no exterior e poderiam votar — provavelmente contra Maduro —, apenas 506 conseguiram autorização para exercer o direito, devido a dificuldades impostas pelo regime.
Ex-presidentes latino-americanos que pretendiam acompanhar a votação deste domingo foram impedidos de entrar no país.
Parlamentares espanhóis também não conseguiram passar do aeroporto.
Apesar de tudo isso, a oposição aparece liderando as pesquisas de intenção de voto e a retórica bélica de Maduro indica que o regime de fato teme uma derrota nas urnas, ainda que não se saiba se isso será o bastante para derrubar a ditadura.
“Luta de classes”
Antes de partir para Caracas, Amorim, que chefia o Itamaraty Paralelo do governo Lula de acordo com seus interesses, e não os do Brasil, se dispôs a traduzir o discurso em que Maduro falou em “banho de sangue” e “guerra civil”:
“Tenho a impressão, sendo, digamos, talvez um pouco compreensivo, que ele estava se referindo a longo prazo, luta de classes, coisas desse tipo, coisa que, de qualquer maneira, não deveria falar”.
A compreensão de Amorim e do governo que representa não vale para todo mundo.
Sempre que pode, Lula reclama do governo de Israel pela reação aos ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro de 2023.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, cujo país foi invadido por tropas de Vladimir Putin, também já foi alvo das reclamações de Lula.
A farsa eleitoral na Venezuela e as guerras na Ucrânia e em Gaza servem para expor as contradições entre o discurso do governo Lula, que se elegeu como defensor da democracia contra a ameaça Jair Bolsonaro, e o comportamento de quem acha mais importante sustentar o antiamericanismo mofado do que condenar evidentes violações de direitos humanos de ditadores amigos.
Esse é o único benefício para o Brasil da viagem do chanceler paralelo à Venezuela.
Redação CNPL com informações d’O Antagonista
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